Depois de meses sem escrever aqui
no meu cantinho, encontrei um tempinho e uma motivação. Na verdade eu até tive
momentos em que poderia ter ecrito algo, mas não queria escrever por escrever.
Bom, muitas coias aconteceram
desde a última vez em que fiz uma postagem. Uma das mais importantes foi eu ter
voltado a estudar. Depois de quase 20 anos de conclusão do Ensino Médio, passei
no ENEM e entrei na UFMS. Era um sonho
distante entrar numa universidade pública. Eu conclui meu ensino médio em
escola pública e logo ingressei numa faculdade particular que oferecia dois
cursos na época, início da década de 90. Não havia universidade pública na
cidade onde eu morava, e eu não tinha condições financeiras de estudar e morar
fora. Enfim, até pouco tempo eu pensava que por ter estudado a vida toda em
escolas públicas a universidade pública estava fora do meu alcance. Mas eu
estava enganada. Consegui entrar numa universidade pública, já meio velhinha(rsrsrs),
e me sinto muito feliz por essa conquista.
Agora estou fazendo um dos cursos que nunca havia pensado fazer: Artes Visuais.
Veja como a vida nos leva por caminhos que nunca imaginávamos percorrer. Eu que
sonhava em ser psicóloga e que estudei 3 anos, também numa universidade
particular, agora estou no mundo das artes.
No começo, me perguntei o que
estava fazendo ali, mas acho que agora já sei. A essa altura do campeaonato,
com uma licenciatura e um curso de Psicologia incompleto, me vejo trabalhando
com Artes e voltando a lecionar. Talvez eu tenha nascido pra ser professora
mesmo, mas relutava pela falta de valorização nos vários níveis. A arte sempre
me atraiu muito, mas eu pensava que para ser artista tinha que ser rico. Agora
vejo que basta ser gostar de arte, ser criativo, ter algum talento e ter
vontade de aprender. A arte pode trazer rentabilidade, seja no campo da
produção ou do trabalho como professor de artes.
Sou pedagoga e minha habilitação
é para trabalhar nas séries iniciais e na Educação Infantil. Contudo, quando morei numa cidade do interior,
fui convidada a dar aulas de Artes am séries do ensino fundamental e do ensino
médio. Como queria trabalhar, agarrei a oportunidade com vontade. Então durante
um ano fui metida a professora de artes! Comecei meio perdida, sem saber
direito como transmitir um conhecimento que eu tinha apenas noção, mas que
nunca havia estudado. Pensei: “E agora? O que fazer?” Então, mergulhei de
cabeça.
Nesse mergulho descobri que o
artista ou o professor de artes é um sujeito multitarefas. Ele pesquisa, ele produz,
ele cria, ele ensina. Em alguns posts do ano de 2010 coloquei algumas fotos dos
trabalhos realizados pelos meus alunos. Na escola onde trabalhei, como na
maioria das escolas estaduais, não há espaço próprio para trabalhar Artes. Não
há uma sala com armários, materiais diversos, pias com torneiras ou bancadas.
Não há sala de artes. O professor carrega pra cima e pra baixo os materiais com
os quais vai trabalhar em cada turma que tem sua sala pré-estabelecida. Era meu
caso. Certa vez estava tão cheia de materiais para carregar que levei um
carrinho de compras com rodinhas. Eu também contava com a gentileza dos alunos
para me ajudarem a carregar datashow e o que mais eu estivesse tentando equilibrar.
Como eu sabia o que ensinar? Bom, eu seguia o referencial de conteúdos que o
Estado envia para todas as escolas. Além disso, eu usava os vídeos do Arte na
Escola. Somente isso. O Estado não envia nenhum livro ou material visual como
material de apoio. Tem-se apenas o referencial com a ementa de cada ano
dividida por bimestre. As imagens, os textos, os slides de aulas, a escolha de
materiais, são preparados pelo professor. Assim eu fazia. Eu passava meus dias
de folga pesquisando, estudando e planejando as aulas. Além disso, quando vinha para Campo Grande comprava livros de Arte nos sebos, ou então comprava pela internet mesmo. Os materiais que a escola não tinha, eu comprava do meu bolso. Eu tinha onze turmas de cinco
séries para preparar as aulas. Nos municípios pequenos nem todos os professores
são habilitados em suas áreas. Faltam professores habilitados em várias áreas e
o professor de artes naquele município era substituído por um de outra área.
Acredito ter desenvolvido um bom
trabalho, mesmo não sendo formada em Artes. Pelo menos tive boas intenções. Primeiro
porque sempre procurei fazer um trabalho pedagógico que desenvolvesse o
potencial do aluno, que o fizesse pensar, que o fizesse criar algo. Nunca
acreditei na mesmice, nem na repetição de modelos pre estabelecidos, quanto
menos na reprodução fiel dos livros didáticos.
Porém, recentemente, ao entrar no
curso de Artes tenho ouvido algo recorrente: “Uma pedagoga dando aula de artes?
Onde já se viu?” “O pedagogo está roubando o lugar dos professores de Artes” foi
o que ouvi recentemente, sem que a pessoa soubesse que eu era uma pedagoga
dessas, metida a professora de artes. Assim como há professores habilitados em
História, Geografia, Português, Biologia e de outras áreas que se acomodam
quando sentem e pensam que não são capazes de mudar o sistema, há aqueles que
adotam uma postura diferente. São os que procuram fazer a diferença. Não para “aparecer”
na escola, mas para efetivamente cumprir com o seu papel de educador e de
transformador social. Durante meus muitos anos como professora tanto na rede
particular quanto na pública, procurei sempre atuar como se fosse a primeira
vez.
O professor, seja de que área
for, tem que atuar como os iniciantes que adentram a carreira cheios de sonhos,
de ideais e de energia. Eles, os novatos, começam a trabalhar pensando em mudar
a realidade vigente, procuram desafiar os padrões impostos, e mesmo sem
experiência, mesmo cometendo erros, buscam o melhor para seus alunos. Mesmo que
o “sistema” sufoque a vontade e a critividade do professor, ele precisa
resistir a esse efeito devastador que acomete a grande maioria dos profissionais.
Não se deve deixar que o comodismo e a desesperança
tomem o lugar do compromisso e da vontade que todos abraçam no início da
carreira.
Fico chateada quando dizem
pejorativamente que pedagogos se metem a dar aulas de artes, como se fôssemos
totalmente negligentes e totalmente despreparados. Também somos vítmas de um
sistema que paga mal e que não oferece condições apropriadas para um trabalho
de qualidade. Nem por isso, me sinto em dívida pelo trabalho que desenvolvi em
2010 como professora de Artes. A mesma pessoa que falou em alto e bom som sobre
os pedagogos que estão roubando o lugar dos professores de artes, por questões
de politicagem, disse também que aproximadamente 30% dos professores formados
em artes, na mesma instituição onde faço artes, estão desenvolvendo um trabalho
ruim nas escolas. Oras, há algo de errado nisso. Se fala mal de quem está trabalhando
como arte educador sem ser habilitado e e também se fala mal de quem é
habilitado. O professor habilitado em artes está desenvolvendo um trabalho tão ruim quanto o não habilitado? Quem pode ser responsabilizado por isso? Como suprir a falta de
professores habilitados aqui na capital e nos municípios do interior? Como explicar o baixo índice de aprovação de
professores do estado e do município nos concursos públicos?
Em vez de criticar o pedagogo que nem tem vaga nos concursos do Estado de MS, e está tapando buracos para se sustentar, devia-se investigar sobre a baixa aprovação nos concursos, sobre as práticas mal sucedidas dos professores habilitados em suas áreas e principalmente buscar entender como um professor que trabalha dois e, às vezes, três períodos para ter uma renda razoável, pode desenvolver um trabalho de qualidade? Que tipo de suporte o Estado ou o Município dá a esse professor, seja ele habilitado ou não na área de Artes? O que está sendo feito para mudar e melhorar a qualidade na educação de modo geral?
Em vez de criticar o pedagogo que nem tem vaga nos concursos do Estado de MS, e está tapando buracos para se sustentar, devia-se investigar sobre a baixa aprovação nos concursos, sobre as práticas mal sucedidas dos professores habilitados em suas áreas e principalmente buscar entender como um professor que trabalha dois e, às vezes, três períodos para ter uma renda razoável, pode desenvolver um trabalho de qualidade? Que tipo de suporte o Estado ou o Município dá a esse professor, seja ele habilitado ou não na área de Artes? O que está sendo feito para mudar e melhorar a qualidade na educação de modo geral?
Espero que esse preconceito
contra os pedagogos não se estenda aos novos aspirantes à professores de Artes.
Aquele que desenvolve bem o seu trabalho, não fica sem vaga para trabalhar.
Ninguém está roubando a vaga de ninguém. Cada um está onde deve estar!